Imaginação.




Uma lágrima rolou involuntariamente por seu rosto cansado de mais um dia triste onde carregou consigo a dor da saudade como um fardo pesado que não a abandonava nem por um segundo. Bastou chegar em casa e se enfurnar naquele quarto silencioso e solitário, que pronto, as lágrimas se atreveram a descer e a ferida no peito se dilatou ainda mais. Imagens e cenas passavam em sua mente como um filme monótono e repetitivo que aquela pobre garota já estava enfarada de assistir. Uma imagem reluzia mais forte e uma cena cintilava a sua frente quando seus olhos fechava. E era a imagem dele. Tão concreto o abstrato lhe parecia, que o imaginário era quase uma realidade, tamanha era a frequência com que aqueles lembranças a vinham fazer companhia. Era uma nitidez tortuosa. Podia ouvi-lo nitidamente, exatamente como era o timbre de sua voz rouca e cansada toda noite quando cochichavam palavras de amor nas madrugadas de insônia. Via a textura de sua pele, o jeito, as menias, principalmente a de arrumar o cabelo de cinco em cinco minutos, afagando-os e passando os dedos por entre os fios da frente para trás e depois ajeitando-os na parte lateral. Ela reparava tudo. Era uma tremenda observadora e totalmente detalhista. Hoje aquela grande qualidade não era tão boa assim, pois só fazia com que as lembranças aparentassem serem ainda mais reais do que já eram. Ela sofria ao recordar aquele rosto, aquele timbre de voz, aquele jeito desdeixado e ao mesmo tempo tão complexo que ele tinha. Porém, era a única maneira de tê-lo com ela novamente, mesmo que mentalmente, mesmo que por pouco tempo. E era fácil, bastava fechar os olhos. Era o que ela sempre fazia, era o que havia se tornado rotineiro. Fechar os olhos e imaginá-lo ali ao seu lado.

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