Aquele olhar penetrante

Todos jogavam conversa fora enquanto comiam peixe e bebiam coca-cola gelada. Ela tinha vontade de se esconder dentro do muro que havia construído ao seu redor. Ninguém fora corajoso o bastante para ver o que havia ali dentro. Porém, ele tinha sido.

Se sentia invadida e completamente desnorteada. Enquanto ouvia de longe palavras aleatórias que eram jogadas ao ar pelas pessoas que riam e se divertiam ao seu lado, ela se sentia observada. Ele não parava de olhar em sua direção e isto a incomodava.

Procurou fechar os olhos mas as altas risadas não a deixavam esquecer onde estava. Tentou encará-lo de volta porém olhar nos olhos nunca fora seu ponto forte: era pequena e frágil demais. Tentou ignorá-lo completamente mas era impossível não sentir as bochechas corarem. Resolveu sair dali.

Caminhou durante alguns minutos ininterruptamente e sem olhar pra trás nem por um segundo. O que era aquilo que ele causava? Porque um simples olhar incomodava-a tanto assim? E enquanto andava ia refletindo em tudo o que havia acontecido. Aquele viagem havia marcado pra sempre uma história que mal começou e já tinha um fim.

Aquele beijo doce. Aquela mão pesada que percorreu todo sua nuca, costas e que repousou bem ali, em sua cintura. Aquele cheiro de perfume masculino que ficou grudado em seu vestido novo. Nada disso iria sair de sua mente tão cedo. Porque é que tudo tinha que acabar? Porque é que um mais um não somava dois? Porque é que ela tinha que ser tão complicada?

Sentada na areia da praia ela resolveu chorar. O motivo? Ela não sabia. Talvez as tantas chegadas e partidas que aconteciam em sua vida constantemente. Chorou talvez pelo motivo de tudo isso, ou seja: ela própria. Sentada com a cabeça apoiada nos joelhos ela chorou. Chorou até que se sentiu vazia. Chorou até que não tivesse mais lágrimas. Chorou até que sentiu aquela mão quente a percorrer o mesmo caminho de antes. Nunca, costas, cintura. Chorou até vê-lo bem ali, com aqueles olhos amendoadas a encará-la, como se pedisse um beijo.